A gente tem que ter um ídolo
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Contextualização
[Também conhecida como minha eterna mania de explicação]
Outro dia (daqueles do tipo "a cura para o tédio é a curiosidade"), eu cheguei à conclusão que todo ser humano tem que ter, ao menos, uma mania (ou um "TOCzinho"), um vício, um medo, um ponto fraco e um ídolo.
Do contrário, fica normal demais. E, pense bem: gente, por definição, tem que ser singular.
Gente muito normal termina enlouquecendo. E, pior, está fadada a não saber conviver com a loucura. Não é melhor se aceitar (e se assumir) logo "atípico" de que surtar de repente?
O post de hoje
[vide título]
Antes de qualquer coisa, estou sentindo a necessidade de esclarecer o que entendo por ídolo.
Chico Buarque (que muita gente esperava que imperasse nesse texto) não é um ídolo. É um ser inalcançável, em torno do qual eu aloquei (embasadas) características positivas. Tem TUDO de melhor. É perfeito. Portanto, está num patamar de mito ("representação humana ideal, não raro ilusória, sem correspondentes na realidade") .
Um ídolo, de fato, tem que ser humano. E, eu já estabeleci que manias, vícios, medos, pontos fracos e os tais defeitos validam a humanidade [aceite a ambigüidade do termo].
Portanto: não, este post não fala de Chico (nem de McCartney, nem de Bono, nem de Audrey Hepburn).
Meu ídolo, na verdade, carrega meu sobrenome (calma, também não é Vinícius... além do mais, o Moraes dele é com E) e descende da mesma matriz genealógica (viu que nem podia ser?).
E ele é novo. Muito novo. Novo na idade e na alma. No espírito meigo, de rir e fazer rir.
E é experiente, muito experiente. Experiente na idade e na alma. Nos relacionamentos, nas preocupações, na vida profissional.
Aliás, ele talvez seja o mais bem sucedido dos Morais. Coisa que sua modéstia quase palpável nunca lhe permitiria admitir - nem pra si mesmo.
E ele é mais: porque, claro, uma pessoa admirável assim tem que ser generosa. E ela tem que saber que generosidade anda de mãos dadas com o anonimato; que, por sua vez, é primo daquela tal modéstia.
Ele tem, ainda, aquelas características de agradar os olhos.
É beleza daquelas que desconserta as menos mulheres, que desperta inveja nos menos homens.
É beleza daquelas que não sabe que é bonita, e nem imagina que mora, aí, o ponto alto de tanta beleza.
É delicadeza em forma física; energia branca vestida de preto, azul ou amarelo, de paletó ou pés descalços.
É simpatia concreta, delimitada por um sorriso.
Moram nele toda aquela segurança desconsertada, uma personalidade forte disfarçada, aquela curiosidade discreta e uma auto-suficiência escondida.
E ele tem defeitos. Como são importantes os defeitos! Ídolo tem que ser gente. Só gente pode virar exemplo e fazer com que a gente acredite que um dia chega perto de ser tudo aquilo. Se não os tivesse, não o escolheria.
No entanto, pára aqui o parágrafo sobre os defeitos. Porque os dele só estão ali para que ele pudesse ser ídolo. Fora a isso, não cumprem nenhum papel que atrapalhe suas qualidades, não merecendo, sequer, ser mencionados.
E ele tem todo o resto da singularidade humana: os vícios, as manias, os medos, a leveza quanto aos pontos fracos e a paradoxal vontade de mudar. Eu não poderia escrever sobre uma pessoa que não fosse completa. Digo, complexa. Haveria de ser alguém que se pudesse estudar, entender, explicar. E alguém que não se soubesse estudado, nem entendido, e que nunca se tivesse visto explicado.
Escolhi justo, e muito bem, meu ídolo. Ídolo de infância, de brincadeiras, de passeios, de saudade; ídolo de novo de vida adulta, de orgulho, de cumplicidade, e de saudade.
Melhor ainda ser ídolo de sangue. Me faz pensar: "quem sabe, um dia, com todo o esforço e a ajuda extra desse fator genético, num chego lá?".
Isso, porque meu ídolo é, de fato e de direito, a essência do que qualquer um deve almejar ser. Mas, se perguntado, ele possivelmente dirá que o parâmetro do que se deve ser é o ídolo dele.
Essas coisas da humanidade...
Rafa
desambiguação -- humanidade:
1. A natureza humana.
2. O gênero humano.
3. Benevolência, clemência; compaixão.