segunda-feira, 16 de maio de 2011

Olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo...

Mas aproveite para olhar agora, porque, dentro de alguns dias, nosso céu azul estará cinza-escuro e seus olhos não aguentarão fixar em nada por muito tempo. Isso porque se aproxima a temporada de fogueiras, fogos e toda aquela fumaça, combinação que parece fazer a alegria (e a alergia) da população. Fora a esse brinde junino, temos as famosas quadrilhas, as comidas típicas e, claro, o forró, com aqueles dois-em-dois dançando os dois-pra-lá-dois-pra-cá em qualquer momento, em qualquer lugar (até em bar que não comporta isso, a menos que empurrem sua cadeira a cada mudança de direção).

Nada mais apropriado do que junho começar com o Dia dos Namorados. Para mim, o clima dos corações vermelhos pendurados é ótimo, saudável e, muito mais importante: silencioso. Até que, em algum momento, ele desemboca no forró. Faz sentido: namorados, ao que tudo indica, dançarão juntinhos essas animadas e rodopiantes canções. Mas, casais queridos, vocês acham que tem que tocar mesmo só forró, durante um mês inteiro (mínimo)? Carnaval, festa de todos os povos, de todo romance e de nenhum santo, consegue dividir seu espaço sonoro entre as marchinhas, o axé e até o brega-fim-de-noite que sempre se escuta nas ruas. Um exemplo de festividade a ser seguido, seu João.

Ainda no aspecto das relações sociais, eu acho particularmente difícil manter amizades nessa época. Isso porque as comidas juninas são uma dor de cabeça à parte - aquelas que tem, todas, o mesmo gosto. Você chega na casa de um amigo e é obrigado a experimentar "uma canjica que só a minha mãe sabe fazer". Ser bem educado, nessa época, é complicado. "Não, eu estou de regime...", "Ah, mas canjica não engorda, não". Nem munguzá, nem pamonha, nem pé de moleque, né? Rejeitar essas comidas típicas, em junho, aparentemente, é como rejeitar bebida no carnaval: altamente repreensível. Não há desculpa que dê jeito. Temos, então, que nos entupir de, bom, derivados de milho - que, convenhamos, nunca foi comida número um de ninguém aqui.

O ápice do meu tormento é, obviamente, o dia 23, com suas fogueiras. Eu li, outro dia, que os alérgicos são parte significativa da população brasileira. O que acontece com a parcela de nordestinos entre eles nesta data? Eu não sei os outros, mas a minha rinite odeia esse santo: ela faz questão absoluta de deixar isso bem claro no dia dele. Espirros, olhos vermelhos, garganta coçando... E isso é só o começo, porque nada disso vai embora por uma boa semana. Aliás, bom mesmo é o day after: que delícia de lençóis cheirando a queimado... Para quem mora só é ainda melhor: um feriado inteiro para lavar e estender as roupas da casa.

Se você vai ficar no Nordeste nestes dias, é recomendável que, na preparação para esse tempo, você não se esqueça de providenciar algumas companhias. É importante ter alguém para dançar forró agarradinho, de preferência sem pisar no seu pé a cada movimento. Você também vai querer escalar alguém para passar vergonha com você em eventuais quadrilhas. Ainda mais importante será comprar, logo, milhares de lencinhos, fiéis escudeiros, para ajudar com a alergia, porque eles podem desaparecer das farmácias. E não esqueça de pegar o telefone de um bom médico plantonista para eventuais queimaduras com os barulhentos.

Como em todos os anos, eu vou-me embora pra Pasárgada. Já sou amiga do rei.

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