terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Meu poeta, camarada.

"Se Clodoaldo Pereira da Silva de Moraes e eu trocamos dez palavras durante sua vida, foi muito. 'Bom dia, como vai? Até a volta.' Às vezes, nem isso. Há pessoas com quem as palavras são desnecessárias. Nos entendíamos e amávamos mutuamente, meu pai e eu.
A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas. Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva. De repente, não tinha pai. No escuro de minha casa, em Los Angeles, procurei recompor tua lembrança depois de tanta ausência.
Fragmentos da minha infância boiaram no mar de minhas lágrimas. Vi-me, menino, correndo ao teu encontro. Deste-nos pobreza e amor. A mim, me deste a suprema pobreza: o dom da poesia e a capacidade de amar em silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor em silêncio.
Tua morte, como todas, foi simples. É coisa simples a morte. Dói, depois sossega. Quando sossegou - lembro-me que a manhã raiava em minha casa - já te havia eu recuperado totalmente: tal como te encontras agora, vestido de mim. Não te direi adeus. De vez que acordaste em mim com uma exatidão nunca sonhada."

Vinicius de Moraes

* Faltam-me palavras próprias pra narrar a falta de quem sempre foi tão importante.
Primeira virada de ano sem meu avô, pai duas vezes, mentor, professor maior, amor, referencial e admiração supremos.

** A poesia está guardada. Na caixinha de recortes e na alma. Só ele sentiria orgulho dela. E Deus sabe como eu tenho orgulho de dedicá-la a ele.

Rafa

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

[Is it over? Should I laugh now?]

Yesterday, I got to thinking about jokes. And how I dislike them. I feel that 98% of them are stupid and bound to make you (or should I say me?) uncomfortable. There's nothing worse than when you listen to this stupid joke and you obviously DON'T find it funny at all, but you HAVE to laugh at it - just so that the person who told it won't be embarrassed or even upset.
And, mostly, I loathe people who laugh at the stupid jokes. To me, they might as well be rated as just as stupid as the joke itself.

For people who, at this point, are thinking: "what an incredibly boring person... how can anyone NOT like jokes?", I'll tell you how. There are people who don't like Lost, Sex and the City, Friends (!!!) or even Chico Buarque, so I guess I'm allowed to NOT like something and have people think I'm weird for that.

For those who are wondering, MANY things will surely make me laugh. I love laughing at my sister's sponteneous comments, at my brother-in-law's clueless remarks, at my students' goofiness, at my friends' drunken moments and at myself, whenever possible.

I guess the "funny" element in something comes a lot from the "natural" element of something. Made-up stories won't crack me up. But feel free to amuse me with your own personal stories. Or, at least, please try and stick to those 2% of all jokes that are actually funny.

Rafa

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Volver

"Almodóvar eh mais que um cineasta.
Eh um gênero cinematográfico."

Eu fui assistir Volver com a lembrança de Má Educação na cabeça. Um filme forte, marcante, injusto com o espectador despreparado. No entanto, me surpreendi. O que vi foi um filme delicado, sensivel e, acima de tudo, capaz de valorizar as mulheres e nosso jeito, digamos, especial, de agir.

Todas as personagens principais são mulheres. E elas são mais que suficientes para levar o filme sem quase representantes do gênero oposto. E, no entanto, não faltam diferenças, ou mesmo amor, neste filme. E amor em sua tradução mais original, de família, amizade, respeito.

Eu devo admitir que, ao final do filme, havia todo um novo respeito brotando em mim por Penelope Cruz. Em uma atuação intensa, carismática e muitíssimo madura, essa atriz já tomada por Hollywood fez valer o título de musa com que Almodovar lhe presenteou.

O filme ensaia um toque sobrenatural, mas termina nos mostrando como tudo eh possível. Esta vida neste mundo eh uma fase e eh preciso cumpri-la. Mesmo que, paradoxalmente, muitas vezes, seja preciso voltar e consertar erros para seguir em frente.

Creio que para nós, mulheres, o filme toma uma dimensao ainda mais especial. Somente nós logo entendemos as relações entre mãe e filha. No entanto, rapazes, ainda há esperança. Almodovar entendeu o que faz ser tão bela esta relação. No minino, procurem em seu filme uma tradução.

Aviso, ainda, que este filme não requer nenhum esforço. Vá ao cinema, sente-se na cadeira e espere os eventos desenrolarem. Se nao tiver paciência de ver além, ainda assim valerá a pena. Se puder pensar um pouco, ficarão belas lições. Me lembrou Thoreau em algum momento: "It's not what you look at that matters, it's what you see."

Saiba que os temas abordados são os mais difíceis possíveis - como abuso sexual, incesto e morte - mas observe como o filme escolhe palavras ao invés de cenas violentas para colocar tais temas.

No mais, o momento com o tango Volver, de Carlos Gardel, lhe lembrará porque você comprou o ingresso.

Quem me conhece sabe o sistema com filmes:
(x) Recomendo
(x) Assistiria de novo

Bjos
Rafa