Meu poeta, camarada.
"Se Clodoaldo Pereira da Silva de Moraes e eu trocamos dez palavras durante sua vida, foi muito. 'Bom dia, como vai? Até a volta.' Às vezes, nem isso. Há pessoas com quem as palavras são desnecessárias. Nos entendíamos e amávamos mutuamente, meu pai e eu.
A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas. Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva. De repente, não tinha pai. No escuro de minha casa, em Los Angeles, procurei recompor tua lembrança depois de tanta ausência.
Fragmentos da minha infância boiaram no mar de minhas lágrimas. Vi-me, menino, correndo ao teu encontro. Deste-nos pobreza e amor. A mim, me deste a suprema pobreza: o dom da poesia e a capacidade de amar em silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor em silêncio.
Tua morte, como todas, foi simples. É coisa simples a morte. Dói, depois sossega. Quando sossegou - lembro-me que a manhã raiava em minha casa - já te havia eu recuperado totalmente: tal como te encontras agora, vestido de mim. Não te direi adeus. De vez que acordaste em mim com uma exatidão nunca sonhada."
Vinicius de Moraes
* Faltam-me palavras próprias pra narrar a falta de quem sempre foi tão importante.
Primeira virada de ano sem meu avô, pai duas vezes, mentor, professor maior, amor, referencial e admiração supremos.
** A poesia está guardada. Na caixinha de recortes e na alma. Só ele sentiria orgulho dela. E Deus sabe como eu tenho orgulho de dedicá-la a ele.
Rafa