segunda-feira, 16 de março de 2009

Como fundar a ética hoje?



O professor e escritor Leonardo Boff, em seu artigo “Como fundar a ética hoje”, reconstrói o conceito de ética que conhecemos. Para o autor, a ética estaria baseada na paixão – e não na razão, como aprendemos – traduzida na conjugação da ternura com o vigor. Ele apresenta os papéis de cada um dos termos: a ternura significa o amor ao outro, o cuidado com as pessoas queridas; o vigor seria a contenção sem intolerância. Só com a interação equilibrada destes dois elementos as contradições humanas estariam unidas e se fortaleceriam.
O escritor alerta que, sem margens, a paixão pode ser avassaladora. Este seria, agora, o papel da razão (que antes embasava toda a noção de ética): disciplinar e direcionar a paixão. Quando a razão impera sobre a paixão, tem-se rigidez, a tirania da ordem. Quando ocorre o contrário, dominam o delírio da vontade e o hedonismo. Com o equilíbrio entre ambos conceitos, teremos a convivência harmônica da ternura com o vigor e viveremos a plenitude da paixão.
É diante do contexto atual, que o autor chama de “crise mundial de valores”, que a discussão sobre ética e sua compreensão adaptada à nova realidade se faz necessária. A ética estaria na base mais elementar da existência humana, ou seja, na afetividade. Afeto deve ser compreendido como a comunhão com tudo que está ao nosso redor, e seria através da paixão que captaríamos o valor das coisas. E estes valores determinariam quem somos.
Em meio à crise mundial de (bolsas de) valores, e, apesar da sociedade capitalista já ter “adaptado” o antigo “penso, logo existo” para “tenho, logo existo”, o professor Leonardo Boff propõe a digna mudança do discurso e da compreensão do ser humano para “sinto, logo existo”. Resta saber se a sociedade capitalista sequer comprará seus livros.


Rafaela Morais

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