E agora, José?
.
Era só o que faltava, José, para mostrar ao mundo que estavas errado, tremendamente errado! Não bastasse o óbvio, o clamor de todos os pernambucanos, recebeste, José, um bem aplicado puxão de orelhas!
Atropelastes a razão, a lógica, o bom senso e a confiança que deveria surgir entre os membros da igreja e seu administrador. Fizeste o que ninguém “antes na história” (como é bom entregar as pessoas às feras...) fez: levantar o estandarte da verdade, da pureza, da inocência e só Deus sabe mais o que, para invocar a ordem divina de excomungar, quase que urbi et orbi, as pessoas que defenderam o direito à vida de uma criança de nove anos (José, lembras de quando tinhas nove anos?), atirando sua metralhadora 360 graus, atingindo a mãe, os médicos e quem mais estivesse solidário neste ato de compaixão.
Compaixão, José, uma palavra que tu não conheceste. E se conheceste, com certeza esqueceste!
A tua história, José, é permeada de tristeza. A igreja que dizes representar não é a Igreja que conheci. Os teus valores não são os valores da verdadeira Igreja, a Igreja do Dom, ele sim, o Dom da verdade e da misericórdia. O Dom da participação, da doação, do amor ao próximo. Coisas que não aprendeste, José, e que não são do teu feitio. Mais importante para ti, José, é cultivar o ódio, a perseguição, relembrando a gloriosa (para ti!) inquisição!
Só Deus sabe (o Deus de todos, José, não o teu Deus vingativo e cruel) o que fizeste de mal a essa terra pernambucana onde esteve por longos anos o Dom (aí, José, vem a diferença: quando se fala no Dom não é o José, mas sim o Helder), aquele que a grande maioria da população do Recife chama “o Dom”! E só tem ele esse respeito!
Chegaste imposto, goela adentro, empurraste o Dom para o ostracismo (tentaste, que desastre!), pensando que as tuas ovelhas pastariam calmas e acomodadas sob o teu bastão de pastor. Mas quem diria: tuas ovelhas, que não eram tuas, triste ilusão, reprimidas, sufocadas, ameaçaram uivar como lobos em protesto por tamanha repressão.
E agora, José? Chegaste com todo o gás, expulsaste padres que eram amados pela comunidade, fizeste outros padres se ajoelhar aos teus pés e pedir perdão (só Deus sabe por que perdão) e culminas tua carreira com uma violência sem par, com a truculência da excomunhão de todos que participaram do ato honesto, sério, responsável, de salvar a pobre garota de nove anos.
E aí, José, por mais que digas que és o representante da Igreja, portanto o representante de Deus, vem a pergunta que não quer calar: representante de que igreja, representante de que Deus? O teu Deus será tão rancoroso quanto és? O teu Deus é tão vingativo e cruel como és?
José, leias o que escreveu hoje o Cardeal Fisichela sobre a tenebrosa ação que tomaste ao excomungar a mãe e os médicos que salvaram a vida de uma criança. José, por que não excomungaste o estuprador? Onde encontraste na história esta máxima de que “ao estuprador tudo, a estuprada a sorte”?
José, é hora de se recolher. Os anos passaram, séculos passaram, já não ardem mais as brasas da inquisição, por mais que gostes. Completaste o teu ciclo de perseguição e de ódio. As ovelhas da igreja que dizes representar estão perplexas, atônitas, em breve estarão uivando de horror, quando deveriam estar balindo de alegria. E José, terás o terror de ver suas ovelhas a uivar, em protesto ao pastor que não consegue nem se sustentar no seu cajado!
E agora, José? O que diria o poeta autor desta frase? A vida caminha José, mas a tua história deveria ser esquecida, deveríamos voltar no tempo e receber o consolo moral, ético e religioso do Dom, o verdadeiro Dom, aquele que varreste da tua arquidiocese!
José, pára José! Já não basta o que fizeste até hoje? Teus padres que foram expulsos, ultrajados, humilhados perante seus fies, varreste tudo que havia de progressista na igreja de Pernambuco!
Tuas ovelhas se sentem violentadas, estupradas (sim, José, aquilo que perdoaste ao estuprador...) e desterradas sob a tua “administração”. Tua igreja não é a Igreja que as ovelhas querem.
Vai, José. Recolhe os teus restos, o que entendes por honra, por migalhas de sobriedade e honradez que talvez encontres pelo chão, afinal recebestes muitos convidados no teu palácio, e segues no caminho do desaparecimento.
Recua, José, recolhe-te!
Vá de retro, José!
Descansa em paz!
Em Tempo:
José:
Tenho uma série de títulos no meu currículo que me fazem hoje um homem realizado, mas gostaria enormemente de ter também o título de excomungado por ti! Isso seria talvez a minha maior glória, o meu maior orgulho! Vindo de ti, é pura honraria!
Wladimir Morais
Engenheiro, consultor
Batizado, crismado, decepcionado.
Sem comentários:
Enviar um comentário