Tolerância zero com essa lei seca!
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Eu estou revoltada com essa novidade de “lei seca”. Simplesmente, porque eu vejo inúmeras injustiças nessa nova (im)posição de tolerância zero. Então, com um pingo de didática (porque de álcool já não pode) e muita, muita indignação, vamos a elas:
1. Comecemos pelo mais óbvio, que é, sem dúvida, que ninguém (leia-se: ninguém acima de 18 anos, ou seja, legalmente capaz de dirigir), absolutamente ninguém se embriaga com duas doses de vodka ou três cervejas, o antigo limite. Essa história de ZERAR o limite de álcool ingerido é absurda e, mais que isso, infundada.
Eis que eu leio no jornal de hoje: "Diminui em quase 20% o número de acidentes após a campanha de fiscalização da nova lei". ÓBVIO, alguém duvida? Lógico, também, que não é por causa da nova lei, mas por causa da fiscalização! Antes, quando permitiam-se as doses humanamente aceitáveis, não havia qualquer fiscalização. Ou seja, ninguém precisava, de fato, parar depois do segundo copo (leia-se: excluídos aqueles mais responsáveis e/ou aqueles que têm medo da morte, como eu). Agora, querem atribuir a diminuição nos números à lei ultrajante que inventaram!
2. Se brincar, ainda mais óbvio que o ponto um é esse ponto dois: não há estrutura para uma lei seca no Brasil. Olhe, eu já tomei algumas em países como a Alemanha e a Espanha, e já vi outros motoristas tomarem todas, e a questão está na cara até pros mais bêbados: sobram transportes públicos noturnos seguros (de novo, ATÉ para os mais entregues!). Ou seja, para quê a pessoa vai sair de carro, se vai beber? Não há motivo. Vai e volta de ônibus ou metrô, tranqüilamente, dormindo até! Mas AQUI?! Aqui sair de carro é medida de segurança (e ainda num adianta nada, né?!)
3. Alguém já viu balela maior que isso de "amigo da vez"? Pra mim, quando tentam justificar o que isso é, minha mente ativa, prontamente, imagens de pais falando do pólo norte, dos duendes, das renas, com aquela aparente credibilidade. “Amigo da vez”, para mim, é tão lenda quanto o bom velhinho.
Claro, eu explico. Happy hour, por exemplo: estamos todos em nossos trabalhos ou faculdades e saímos pra tomar um choppinho (ou uma vodkinha, de preferência), para, então, seguirmos pras nossas casas. Muito bem, eu não sei você, mas eu moro em Casa Forte e estudo na Boa Vista, com outros tantos colegas de Olinda, Boa Viagem, Setúbal, Espinheiro, Graças, Parnamirim. Então, digamos que saio da faculdade à noite e vou pra um barzinho ali perto, com esses coleguinhas todos, de tantas partes da nossa região metropolitana... Me dizem: “Vai um lanzudo dirigindo” - ou seja, alguém que não bebe e sofre preconceito por isso - “e vamos juntos no carro dele”. Ok. Mas, opa! E nossos carros voltarão pra casa como? Aí, eu pergunto: é pro lanzudo ir dirigindo cada carro até a casa da pessoa? E ele volta pro dele como? Ah, então serão necessários DOIS lanzudos, né? E depois dessa mão de obra toda, os lanzudos-unidos num instante vão querer beber. Jóia: tiro pela culatra, autoridades!
4. “Pega um táxi”. Olhe: táxi eu nem comento. Da última vez que peguei um, o moço-motorista ofereceu a mim e a algumas amigas uma lata de guaraná muito da cavernosa, que só num cheirava a guaraná. Sem deixar de mencionar aquele que pegou a Mário Melo na contra-mão, ou o do último carnaval que eu acredito que achava que 100km/h era limite mínimo de velocidade na volta do Recife antigo, e fez aquela curva do Forte em quinta. Tá bom ou quer que eu conte mais?
5. Hoje, disse um estimado político nosso, dono de tantos dos meus votos, a um dos jornais locais, sobre o lobby dos representantes de bares e restaurantes da cidade: "A lei não proíbe de beber, só proíbe de dirigir". Eh... É quase como dizer que essa frase dele não é ignorante... é pouco inteligente. Pra não dizer “cretina”, porque ele sabe muito bem (como político respeitável e homem inteligente que é) que o problema não é beber e dirigir, ao contrário do que prega essa nova lei: o problema é o quanto se bebe e, aí sim, se deve-se dirigir ou não. Eu sei que bom senso tá em falta no Brasil, mas presumir que não se deve beber NADA porque qualquer xarope pra tosse pode fazer você bater ou matar alguém é dizer que brasileiro, além de “burro”, agora, é, também, deficiente – ou melhor, “especial” - porque processa álcool diferente dos outros seres humanos, né? É o sonho de ser mutante de alguns virando realidade.
5. Ok. Agora, preste atenção nessa imagem do futuro: tiram os carros e habilitações da galera - sim, porque claro que muita gente não vai sentar numa mesa de bar, ou passar a noite numa boate, sem tomar UMA cerveja - e o mundo se livra de motoristas embriagados (e de não-embriagados-porém-bebedores-ocasionais-contidos-e-responsáveis também). Aí, com medo dos motoristas de táxi (que, inclusive, continuarão a beber, porque conhecem todo mundo nos órgãos certos pra eliminar multas e apreensões mesmo...), mais medo ainda dos ônibus na madrugada (porque até sóbria, de dia e num carro, há que se ter medo deles), vamos andar a pé. Imagine bem: uma legião de bêbados-pedestres, atravessando avenidas, tropeçando entre ruas e calçadas, errando o vermelho/verde do sinal... Aí, eu quero só ver os índices de acidentes como vão ficar! Porque não precisa ser muito criativo pra imaginar O CAOS. Carros batendo uns nos outros pra desviar dos bebúns, gente cortando sinal pra fugir dos pinguços, um mói de atropelados... Enfim, o melhor é que os motoristas SÓBRIOS possivelmente serão culpados por eventuais crimes/infrações, que, antes, eram dos que, pelo menos, estavam entorpecidos demais pra sofrer por eles.
6. Tem mais: quem disse que álcool é o maior causador de acidentes? Eu quero esses dados. Porque, pessoalmente, eu nunca vi a morte perto por causa de bebida, mas por causa de pedestres desajustados e ciclistas... E, aliás, ciclistas não vão ter que soprar no bafômetro! Vai ser uma solução óóótima: os playbas, por exemplo, terão superbikes encaralhadas e sairão todos embriagados pelas ruas, botando aquela de “ainda sou saudável”. E você que se cuide, porque, mesmo você sóbrio, e eles bêbados, encosta num pra você ver o rigor da lei!
7. Isso é, acima de tudo e qualquer coisa, uma limitação absurda da nossa liberdade. Lógico que eu não quero bêbados dirigindo, não, longe disso. Mas, se eu posso beber minhas duas doses e me manter comprovadamente química e fisicamente consciente do que estou fazendo, no meu estado normal, eu quero ter o direito de bebê-las, quando e onde eu quiser. E não venham me dizer que “claro que não se mantém o mesmo nível de consciência quando se toma nem o primeiro gole...”, porque eu também não fico com o mesmo nível de atenção ou responsabilidade quando tenho alguma raiva no trabalho – e nem por isso eu posso perder minha carteira - desde que, óbvio, não faça nada de errado que constitua uma infração.
8. Será que é mera coincidência que os políticos que apóiam essa lei andam, lógico, de motorista (pago com o nosso dindin, inclusive)?
9. Eu realmente espero que isso não vá pra frente. O exemplo da lei 9294 ilustra bem minha esperança com relação à adaptação dessa lei seca. Vale lembrar que, há uns dois ou três meses, tentaram banir cigarros de restaurantes e bares, com os melhores argumentos: fumantes passivos, garçons em risco, desconforto geral, etc, etc, etc. Chega em qualquer bar/restaurante agora e puxa um cigarrinho: lá vem o garçom oferecendo fogo! O que mantiveram, sim, foi o fato de não se poder fumar em lugares fechados, o que faz todo sentido e já existia antes. Só que, claro, não se cumpria. “Por quê?” Ora, porque não havia fiscalização – ou você se esquece que aqui é assim?
10. Eu acho que boa parte da minha revolta vem de ter que torcer pra que certas leis caiam! Logo EU, que pondero tanto na escolha dos meus candidatos, que acredito tanto que o Brasil tem futuro se for levado com seriedade, que nunca cometi nenhuma infração, que mal desobedeço regrais sociais, quem dirá formais... Maaas, dentro dessa velha necessidade brasileira de nivelar por baixo, eu quero só esperar para ver se o dia em que eu vou perder minha habilitação vai ser um dos que eu vou estar “bêbada”-sóbria (leia-se: tendo comido um chocolate com licor) ou “bêbada”-nada-bêbada (leia-se: tendo bebido o permitido pelo antigo limite, que não embriaga ninguém). Aliás, para ser bem sincera, eu acho que eu vou é logo embora e vocês que apaguem a luz.
Rafa
3 comentários:
Na moral, sou tua fã...
Beijos!
Amiga, Excepcional!!
Precisa divulgar urgente!!
Beijos!
Rafa pra presidente!!! :P
Beijo :*
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